Paula Cassim

Tempo bom que não volta NUNCA mais…

Noites QUENTES em pleno inverno GELADO de janelas que faziam barulho de fantasmas durante a madrugada.
Aí eu te pergunto, dormíamos? Não lembro desta parte.  Mas da garrafa de água eu me lembro muito bem. Dela e do celular que despertava sempre cinco minutos depois que eu fechava os olhos.
Entusiasmo ao escolher a roupa certa, última olhadinha no espelho do elevador, passa às nove, por favor!
Rádio ligado no último volume no carro e na volta “pra minha ou pra sua?”.
Copos de chopp misturados com caipiroscas regadas ao leite condensado.
Mas quem precisava adoçar mais alguma coisa ali?
Um fervor de gente em plena quinta, doía tudo de tanto rir.
Por vezes ME DAVA o relógio para EU guardar e eu colocava no pulso.
Sempre gostei de guardar as coisas DELE quando ME perguntava se cabia na minha bolsa. Sensação boa de “eu tô com ele e ele tá comigo”.
Chegar ao banheiro nunca foi uma tarefa fácil alí, mas gostávamos.
Era gostoso a sensação de termos que atravessar cantando o MANTRA “dá licença”, “opa, obrigada!”, “desculpa!”, “tô passando…”, “licença!”.
Sempre gostamos do mais complicado, é a nossa lei.
O relógio marcava 5 e 5 e as pessoas pareciam se divertir muito com tudo aquilo. O castiçal de velas era a parte mais romântica daquilo tudo que fazíamos questão de deixar do NOSSO JEITO, sempre tudo menos romântico possível. Mas porque, você me pergunta? Porque tudo não foi feito para ser romântico, porque tudo que é romântico ACABA MAIS RÁPIDO. Tudo foi feito para ser prático, para ser sedutormente encantador. E disso a gente entende, sabemos ser exatamente assim, um para o outro. Ta aí a graça. Não queríamos fazer nada errado para não cansar, para não nos esquecer. Muito presente? A distância, que muitos achavam que nos faria esquecer, na verdade nos ajudava a não acabar. Não SE esqueça! Não ME esqueça! Não queria esquecer… Não QUERIA.  
Nos entendemos pelo olhar, pela boca, pelo cheiro, pela pele, pelas maneiras, pelas músicas…. ai, ai…Anos 60, 70, 80 e 90 bem ao alcance de suas mãos!
Dançávamos e arriscávamos um inglês que pouco entendíamos naquelas músicas que tanto gostávamos. Gosta-vamos? Vamos-gosta! Gostamos, gostamos…
Incrível mesmo é sentir o cheiro daquele tempo, nas lembranças que se misturam no ontem-e-hoje quando escuto uma música daquelas SEM QUERER em meio a programação da rádio.
Aí, quando tudo parece mais que controlado, eu dou de cara com uma foto daquela animada turma que nos conhecía pelo nome e sabia exatamente o tipo de colarinho que preferíamos no chopp e que nossa música favorita era Hotel Califórnia, salvo U2, salvo Supertramp com o nosso Logical Songs, salvo Descobridor dos sete mares, salvo tanta coisa que eu ainda me lembro e que eu quero esquecer.
Aí, quando tudo parece mais que controlado, o Elvis surge com sua inesquecível música em uma propaganda de TV e me faz postar involuntariamente o vídeo do texto abaixo.

Coisas boas se guardam em caixinhas para serem retiradas APENAS para mostrarmos aos nossos netos. Abrí-las antes, é como comer o morango de cima do bolo antes de cantar o parabéns. As pessoas descobrem que você comeu e reclamam que você não deveria mais fazer isso. Você fica com aquela sensação boa por um tempo e depois o seu pedaço de bolo vem sem o morango com a alegação de que você JÁ COMEU a sua parte. 
 
Dizem que devemos lembrar das coisas boas, mas eu sou muito adepta a esta caixinha e sem a versão MORANGO.
Esqueço todo santo dia de um pouquinho, quando eu percebo já esqueci.
Esqueci de tantas coisas já que quando vejo uma foto como estas eu falo: É MESMO! Tinha uma TV pequeninha embaixo do relógio que marcava 5 e 5 da onde víamos o jogo de futebol…
Quem não é visto não é lembrado. Basta não ver para não saber. Basta não procurar para não lembrar. Tempo bom que não volta NUNCA mais. E que não volte, porque não quero.

Esqueço todo santo dia de um pedaço bom, para dar espaço ao novo melhor.
Tô esquecendo. Quero esquecer. Tô esquecendo já.
Por favor, não me faça lembrar de você.

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