Paula Cassim

Querido povo sensacionalista. Somos.

Inglesinha é assassinada X esquartejada. A imprensa começa a *detalhada* narração do caso:
» Polícia encontra o tronco do corpo dentro de uma mala.
(O tronco é dela porque tem a tatuagem que a amiga reconheceu.)
» Desempregado encontra uma mão.
» Morador acha perna esquerda.
» Achada outra perna que seria de inglesa.
» Achado crânio que pode ser da inglesa.
(O crânio achado é dela porque tem 2 piercings como os que ela usava.)
» Achado dois braços da jovem inglesa.
(O braço direito é dela porque também tinha uma tatuagem igual.)
» Delegado conta detalhes do esquartejamento.
» Legista também conta detalhes do esquartejamento.

É. Os diversos tipos de crimes que assistimos diariamente na TV não demonstram nem *zero vírgula zero zero zero UM por cento* dos crimes que ocorrem ao nosso redor diariamente e que curiosamente não ficamos sabendo. Ao menos quando assistimos na TV sobre alguém que morreu esmagado por um carro que perdeu a direção e ficamos sabendo que este alguém não é mais simplesmente um alguém, é primo do tio do sobrinho do amigo daquela moça que faz limpeza na empresa da amiga da sua prima. Daí você fala: “Nóóóóóssa! Coitada!” E sai por aí contando pra todo mundo, SEM EXCESSÃO que aquele menino que morreu esmagado era conhecido e que os crimes estão CADA VEZ mais perto de você!
E tudo isso para EU, esta que vos escreve, falar e demonstrar que a população é sensacionalista demais. As pessoas adoram assistir em detalhes sobre a desgraça alheia. Usam isso como pauta em mesa de bar, como *assuntos-motivos* para puxar uma conversinha. Todo mundo fica REVOLTADO com os crimes mas não perde um capítulo sobre “a nova parte do corpo que acharam da inglesinha”. Querem justiça, acham um absurdo, mas não piscam quando passa uma perseguição ao vivo na TV ou quando eles ficam filmando o corpo do motociclista atropelado, ali, no chão, em rede nacional. O ser humano é estranho. Tem tendência à destruição. Odeia tudo isso mas fica alí, parado, acompanhando tudo de camarote VIP.

Para aqueles que estão neste exato momento achando uma grande groselha tudo isso que eu tô dizendo, discordando de tudo por A mais B, responda-me: Se tô falando demais, o que são aquelas 50 pessoas em volta do motociclista atropelado e mais todos aqueles carros que passam devagarzinho ao lado formando aquele trânsito enorme só para dar uma espiadinha? Não seria curiosidade de um povo sensacionalista que ama uma tragédiazinha? Pode parecer bobagem, mas o carro do resgate já esta lá, dando os primeiros socorros. Todas estas pessoas em volta não vão poder ajudar em nada. Não são parentes da vítima. Não estão emitindo corrente de energia via REIKI para cura, não estão de mãos dadas orando por sua vida, não estão alí para ajudar no pagamento dos remédios se ele precisar. A ajuda é altamente dispensada e o arroz já está queimando no fogo nas suas respectivas residências. Vá. Vão. O problema não é seu, você não poderá fazer nada para interferir a favor da vítima. Cuide dos seus problemas e continue lutando por justiça e por um país melhor. Mas calmamente. Do seu jeito. Faça sua parte, porque se cada um fizesse a sua o país, aliás, o planeta já teria sido salvo por completo. Em todos os sentidos.

Sou brasileira e também faço parte de tudo isso, com um orgulho danado por ser brasileira mas sem entender exatamente o porque somos assim. Estranhos.

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