Paula Cassim

Eu só queria comer meu lanche. Em paz!

Trabalhar no centro de São Paulo é uma das tarefas mais divertidas e simpáticas que eu tenho e amo.
É incrível a variedade de coisas que encontramos por aqui. Além de ter todos os bancos por perto, ainda tenho a alegria de compartilhar meu dia à dia ao lado de carismáticos seres que desfilam com suas características ímpares para lá e para cá.
Hoje, pra variar, resolvi aderir ao Mc Donald´s no almoço. Novidade, uma vez que nos últimos dias não estou tendo tempo nem para respirar, quem dirá fazer hora de almoço, esta tão sonhada hora que últimamente anda sendo por volta das 3 da tarde.
Sinto-me privilegiada por trabalhar no meio do centro ao lado da 25 de março (meu refúgio nas tardes tranquilas) e ao lado da Liberdade (a terra do arroz, argh!) e por assim ser, escolhi o MC da Liberdade, mais “tranquilo” do que o MC da Sé.
Doce ilusão numa sexta-feira às 14hrs.
Pra começar uma fila imensa. Peguei meu lanchinho num saquinho porque resolveram aderir a economia de bandeja e para minha *sorte* ao ir procurar uma mesa, lá estava ela! Minha mesa de 4 lugares esperando por mim. Sentei e já notei a sujeira que estava, além de estar  melada.  Abri o saquinho de guardanapo e peguei um para fazer de “bandeja” para por o meu lanche em cima da mesa. Isso é mania. Herança de infância. Mamãe que me ensinou.
Logo de cara, percebi que diminuiram o tamanho do guardanapo e na mesa ao lado, uma família muito agradável. Observei também que havia 2 LATAS de coca cola na mesa desta mesma família *agradável* com canudinhos do MC Donalds e fiquei por um instante até feliz por *achar* que estavam vendendo latas no MC agora, uma vez que refrigerante de máquina é uma maravilha que não desejo à ninguém. Havia duas crianças adoráveis na mesa comendo lanchinho enquanto a mãe e a avó estavam se deliciando em uma bandeja de sushi (argh!). Daí eu percebi da onde provinha as tais latas… Eu só queria comer meu lanchinho calmamente e de modo feliz quando uma das crianças que aparentava ter 9 anos começou a dar PI-TI quando a mãe sacou da bolsa um troço enorme parecido com maria-mole e entregou para ela.
Filha mimada com mentalidade de 3 anos: Mãe o que é isso?
Mãe calma: É bananada come!
Filha mimada com mentalidade de 3 anos: Bananada do que?
Mãe calma: É doce, come!
Filha mimada com mentalidade de 3 anos: Se eu não souber o que é não vou comeeeeeeeeeer!
Mãe calma: Come filha
Filha mimada com mentalidade de 3 anos: EUUUUUU NÃÃÃÃÃO VOU COMERRRRRR O QUE NÃO CONHEÇOOOO!
Ahhh! Aquilo já estava me stressando! Eu estava quase levantando e indo na mesa falar pra menina que se é BANANADA só pode ser de BANANA, e para a mãe que não custa nada falar: É DE BA-NA-NA!… E isso não é tudo!
Também ia dar um chacoalhão na menina e falar: Vai esperar no carro sua criança mimada, irritante, chata, $#$%%… Sim, eu estava feliz antes disso, acreditem!
A moça que estava na mesa ao lado, olhava para a mesa da menina com cara de quem estava vendo um ET, mal conseguia sentir o gosto da batata tamanha concentração em meio aos acontecimentos.
A avó levanta para ir ao banheiro e *invade* o banheiro masculino (após ter ido na direção contrária, entrando na porta de acesso aos funcionários). A mãe grita: MÃE! A avó não escuta. A menina mais velha vai atrás da avó. Gritando. A avó não escuta. A menina mais velha alcança a avó. Ela escuta. Mas demora 15 segundos para entender que é na outra porta. Meu guardanapo acaba. Quero procurar um funcionário para trazer um. Mas os funcionários estão em pé-de-guerra. A funcionária briga com o funcionário porque ele não trouxe saco de lixo. O funcionário briga com a funcionária porque quem vai trazer o saco de lixo é o terceiro funcionário. O terceiro funcionário chega enfim com o saco de lixo para semear a paz. A paz não reina. A funcionária reclama do funcionário para o terceiro funcionário. O MC pára. Todos estão comendo observando a discussão. O terceiro funcionário percebe. A funcionária não. A funcionária sai gritando no meio do salão subindo as escadas com o funcionário. Eles se vão. Não estão mais entre nós. Eu ainda estou sem guardanapo. E pedi o maior lanche lotado de molho. Eu já faço sujeira por natureza com molhos. Nada mais falta acontecer. Eis que surge uma mulher vindo em minha direção. Ela senta ao meu lado. Entenda, senta na mesma mesa que eu, ao meu lado. Olho para ela esperando uma reação. Ela abre o lanche dela. Falo para o meu EU INTERIOR : “Pedir licença ainda está na moda”. Mas a voz não sai e ela não escuta. Falo novamente para o meu EU INTERIOR. Desta vez respondo a pergunta que ela não perguntou porque não sabe que pedir licença ainda está na moda: “Sim! Estou sozinha e NÃO! eu não estou esperando ninguém, pode sentar, fique a vontade”. Me levanto. Levantei porque achei que estava atrapalhando ela. E também porque já estava acabando de comer. Jogo meu lixo no lixo, coisa que as pessoas que frequentam ali deveriam fazer. Vou até o banheiro para lavar minhas mãozinhas que imploram por um guardanapo. Uma pia. Uma moça esconvando os dentes LENTAMENTE na pia. Eu atrás dela. 1 minuto. 4 minutos. Ela escova os dentes. Um a um dos seus 32 dentinhos. Lentamente. Está se sentindo no banheiro de sua casa. Eu atrás. Ela abre espaço. Eu lavo minhas mãos. Subo a escada e atravesso a porta do MC DONALD´S. Agradeço a funcionária que está na porta. Ela não responde.

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